SBP Sociedade Brasileira de Psicologia

Aids: onde está o problema?

O HIV segue se espalhando e a AIDS matando desnecessariamente: sabemos o que fazer e a PSICOLOGIA tem sido fundamental

Vera Paiva

Vera Paiva *
Universidade de São Paulo - PST & NEPAIDS

A epidemia cresce entre os mais jovens de modo preocupante: a probabilidade de infecção pelo HIV de jovens de 15-24 anos é 3,2%  maior do que entre jovens nascidos nos anos 1970 e que eram adolescentes nos anos 1980-90, tempos descontrolados da epidemia. Temos índices africanos e inaceitáveis (de epidemia generalizada) entre meninos homossexuais e em algumas regiões do país, como no Rio Grande do Sul, e observamos taxas de mortalidade alarmantes na Amazônia e crescendo de modo inaceitável no Rio de Janeiro e Santa Catarina. Onde está o problema?

Não na intensa dedicação acadêmica e acúmulo de saber técnico: acumulamos no Brasil, ao longo da produção da resposta brasileira à Aids, evidências e experiências bem sucedidas no campo da prevenção e do cuidado. Somos referências internacional, com significativa contribuição de psicólogos, como discutimos no Suplemento Especial da Revista Temas.

Conversar sobre Aids, sexualidade, prevenção é ainda a ação mais eficaz. Cada geração precisa aprender a usar camisinha, a melhor indicação, saber como procurar e fazer o teste, seguido de aconselhamento, aprender como se defender de uma epidemia que cresce e encontrar a melhor forma de prevenção, caso não seja possível usar a camisinha. Todos precisamos conhecer novos métodos de prevenção com base em medicamentos anti-retrovirais,  adotados pelo SUS desde 2010, como a profilaxia pós-exposição sexual (PEP), mas pouco disseminados. O estigma associado à Aids é considerado por todos os especialistas internacionais o maior obstáculo para o cuidado e à prevenção. Todos são temas para a psicologia e ação de psicólogos!

Um dos maiores problemas no enfrentamento da doença é a ação de grupos de religiosos fundamentalistas que têm impedido essa discussão nas escolas, impondo sua versão religiosa sobre prevenção - não falar sobre sexo a não ser para pregar  abstinência até o casamento. Todas as pesquisas psicossociais têm demonstrado que essa esperada abstinência não acontece nem entre jovens cristãos frequentadores assíduos de igrejas. O segundo problema é o fato de os governos não admitirem o tamanho do problema, terem dificuldades de confrontar a resistência a prevenção, os pastores da (falsa) moralidade e se enganarem com um falso panorama de que 'tudo está resolvido'. Não está! A pesquisa e ação psicossocial e educacional tem desenvolvido metodologia e tecnologia inclusive para conversar com religiosos.

Milhares já morreram desde o início da epidemia. O  1º de dezembro é dia de ampliarmos nossa solidariedade com cerca de 730 mil pessoas vivendo com Aids no Brasil e o compromisso em evitar que todos os anos mais de  40 mil pessoas se infectem com o HIV, como tem ocorrido nos últimos anos.

* Vera Paiva é professora da Universidade de São Paulo, onde coordena o NEPAIDS. Presidente da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia

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