SBP Sociedade Brasileira de Psicologia

Psicólogos: estamos satisfeitos com nossa graduação?

O que faz os estudantes permanecerem em seu curso de graduação? No Brasil, a evasão acadêmica é considerada um problema. Os graduandos não permanecem na academia por diversos fatores como falta de motivação, questões pessoais e econômicas, exigências acadêmicas, adap­tação a um novo ambiente e insatisfação com o curso de escolha (Guimarães & Bzuneck, 2008).  Se nós perguntássemos: quantos graduandos do seu curso, insatisfeitos, modificariam algo nele? Você poderia dizer, talvez, 30%, 50%, e, sendo muito pessimista, até 80%.

Pois é. Nossa pesquisa realizada na graduação em Psicologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul demonstrou que 95,5% dos participantes modificariam algo em seu curso. Este dado revela uma insatisfação marcante dos graduandos. Acreditamos que se os estudantes não se satisfazem com seu curso de escolha, eles podem vivenciar a graduação constantemente em estados de tensão e estresse oriundos da própria situação acadêmica.  

Outro resultado encontrado em nosso estudo foi que quanto mais avançado for o semestre em que o graduando de Psicologia se encontra, menor tende a ser a satisfação com o curso, o comparecimento às aulas e atividades, a perspectiva de segurança na escolha do curso e a percepção de competência pessoal para a carreira na Psicologia. Além disso, os graduandos tenderam a estar mais suscetíveis às dificuldades emocionais e problemas de saúde mental durante os anos seguintes da graduação em comparação ao ano de ingresso.

Essas dificuldades provavelmente influenciam e são influenciadas pela insatisfação com o curso, em como os estudantes investem em sua graduação, no quanto eles se sentem seguros pela escolha da área profissional que gostariam de seguir, e na qualidade do envolvimento com esta escolha. A percepção do curso de Psicologia como insuficiente ou insatisfatório seria em razão das dificuldades emocionais dos estudantes ou a universidade não está correspondendo às expectativas destes, desencadeando problemas na saúde mental?

 Problemas psicossociais como ansiedade, depressão, preocupação com os estudos e dificuldade nos relacionamentos são comumente encontrados em estudantes universitários, e, quando não avaliados adequadamente, podem levar a evasões acadêmicas (Cerchiari, 2004). Com o objetivo de entender as relações entre a saúde mental, a vivência acadêmica e a motivação dos estudantes universitários, pouco exploradas na literatura em Psicologia, foi conduzida a nossa pesquisa. Participaram do estudo 256 graduandos, os quais se situavam entre o 1º e o 13º semestre.

É possível que, devido à insatisfação, os estudantes de Psicologia comecem a investir menos na graduação, gerando um aumento da tensão ao avançarem de semestre, aspectos que geram insegurança para atuar na profissão. A permanência no curso foi acompanhada de um declínio motivacional, e é possível pensar que por volta do fim do Ensino Médio os estudantes podem ter expectativas de que as disciplinas de Psicologia irão contribuir para sua formação profissional, e, assim, os estudantes podem deixar de se envolver com as aulas no momento que começam a considerá-las sem significado para sua formação (Guimarães & Bzuneck, 2008).

Agora vocês podem perguntar: por que Psicologia? Bom, na literatura nacional é interessante o achado em relação à comparação da ocorrência de insatisfação com a graduação e o sofrimento psíquico entre cursos diferentes. Tal sofrimento tende a ser maior nos cursos em que o objeto de estudo tem maior subjetividade, em especial quando este objeto é o ser-humano com toda sua complexidade (Cerchiari, Caetano & Faccenda, 2005). No entanto, a Psicologia não foi um dos cursos estudados no Brasil, já que a literatura nacional se direciona principalmente aos estudantes de Medicina (Benvegnú, Deitos & Copette, 1996; Cerchiari, 2004; Cerchiari et al., 2005).

 Nossos resultados sugeriram que há relação entre a insatisfação com a universidade, a desmotivação e a saúde mental. Espera-se que nosso estudo tenha contribuído para levantar o debate acerca da insatisfação acadêmica, que influencia na saúde mental dos estudantes e na ocorrência de evasões que são onerosas para o ensino público, para a sociedade, e, principalmente, para os próprios estudantes.

Referências:

Benvegnú, L. A., Deitos, F., & Copette, F. R. (1996). Problemas psiquiátricos menores em estudantes de medicina da Universidade Federal de Santa Maria, RS, Brasil. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, 18, 229-233.

Cerchiari, E. A. N. (2004). Saúde Mental e Qualidade de Vida em estudantes universitários (Tese de Doutorado). Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP.  

Cerchiari, E. A. N., Caetano, D., & Faccenda, O. (2005). Prevalência de Transtornos mentais menores em estudantes universitários. Estudos de Psicologia, 10 (3), 413 – 420. doi: 10.1590/S1413-294X2005000300010

Guimarães, S. E. R., & Bzuneck, J. A. (2008). Propriedades psicométricas de um instrumento para avaliação da motivação de universitários. Ciências e Cognição, 13, 101-113.

 

Texto: Psicólogos: estamos satisfeitos com nossa graduação?

Autoria: 

Alice Zanrosso Baptista¹

Felipe Vilanova²

Ângelo Brandelli Costa²

Silvia Helena Koller¹

¹Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS

²Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande Sul, Porto Alegre, RS

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